Assassinato do jovem artista negro por segurança em Santo André expõe a violência
do racismo estrutural e revolta familiares, amigos e movimentos sociais.
Na noite de sexta-feira, 29, a praça Cristo Operário, na Rua Carijós, em Santo André, foi tomada por velas, cartazes e lambe-lambes que gritavam justiça por Felipe Moraes, 29 anos, multiartista negro, morto a tiros por um segurança no supermercado Loyola. O ato reuniu familiares, amigos, artistas, trabalhadores e trabalhadoras que se levantaram contra mais um brutal episódio de violência contra a população negra.
Nas portas e paredes do supermercado, cartazes estampavam: “Justiça para Felipe Moraes”. Junto deles, acusações diretas de racismo — porque esse é o nome que precisa ser dito. Ao contrário do que parte da imprensa tentou reduzir, Felipe não foi assassinado por estar acompanhado de seu cachorro. O próprio supermercado permite a entrada de pets. Felipe foi morto porque era um jovem negro, que mesmo após mostrar ao segurança que estava desarmado, teve sua vida interrompida pela intolerância e pelo preconceito.
A esposa de Felipe, Evylin Silva, ainda em choque, descreveu a sensação de cair num abismo: “É muito estranho, eu estava conversando com os irmãos do terreiro e parece que é só um pesadelo e que a qualquer momento ele vai chegar e abrir a porta. Ele era muito alegre, apesar de ter vivido momentos difíceis na vida. Ele queria cursar História, queria ser mestre de capoeira, queria ter filhos. Ele sempre falava pra mim o quanto sofria racismo no dia a dia por ser negro e artesão. Eu sempre pensei que ele iria alcançar tudo o que desejava”, conta a companheira.
Diretor do Sindicato e coordenador do Departamento de Igualdade Racial, Pedro Paulo, esteve na manifestação, junto com os diretores Lulinha e Saradão, e denunciou: “O assassinato de Felipe não é um caso isolado. É o reflexo do racismo estrutural que atinge diariamente a população negra, principalmente a juventu de. Nós, do Sindicato, repudiamos com toda força esse crime covarde e exigimos justiça. A vida de Felipe foi tirada por intolerância, e isso não pode ser naturalizado. Queremos responsabilização e queremos transformação.”
O irmão de comunidade, Folha Nubia, destacou a força e o legado de Felipe: “ A oportunidade que eu tive de viver com ele mostrou que, mesmo diante de muitas dificuldades, ele sempre teve esperança. Assim, acredito que agora ele se refaz, se renasce. Sabemos que o Brasil é totalmente racista, e o Felipe tinha isso de resistir. Ele fazia parte de uma comunidade política, cultural, e trazia essa força de autonomia, de se refazer. Agora ele vive nessa memória que vamos lutar através daquilo que ele deixou como legado. A história dele não pode ficar reduzida a essa violência.”
Com tintas vermelhas escorrendo pela calçada do supermercado, simbolizando o sangue derramado, e depois lavado, o ato terminou em silêncio, com punhos erguidos e velas acesas. Um silêncio que falava mais alto do que qualquer palavra. Um silêncio que se transformava em compromisso coletivo: seguir na luta contra o racismo que insiste em matar, e pela memória de Felipe Moraes, presente!
Fotos da manifestação tiradas por Rorigo Pinto/mandato Ricardo Alvarez




